Retalhos da Minha Infância
Histórias que vivi e de que ainda me lembro.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Prefácio

Quando criança,  sonhava um dia escrever um livro. Como nunca saiu, resolvi montar este blog com histórias da minha infância e adolescência. Aqui vou escrevendo minhas lembranças, na decada de 50 e 60, vividas em Estância Velha/RS, junto com minha irmã, um ano mais nova, minha família,  e mais duas amigas, nossas vizinhas.
Quero  deixar escritas estas pequenas histórias, principalmente para meus filhos e para a maioria dos jovens de hoje, que nem de longe tiveram uma infância parecida, não participaram da vida ao ar livre, curtindo a natureza e tudo o que nela pode se encontrar. 
 As postagens não seguem uma ordem de data. Vou escrevendo, à medida que lembro de algo. Se você esteve presente em algum destes eventos, pode comentar do que se lembra e acrescentar se algo eu esqueci.
Uma grande pena é que naquela época não se batia fotos, nem máquina tinha, as fotos que temos, foram  feitas por um tio. A maioria que incluí é apenas ilustrativa. 
                              Ingrid Konrad
                       era assim o meu nome

Obs.: Ficarei feliz se você comentar as postagens. 
Obs. importante: Não permito copiar, compartilhar,  usar nenhuma história para outros fins. 02/07/2017.

Paixão por livros

Minha paixão por livros começou bem na infância. Meus pais também gostavam de ler. 
À noite, depois da janta, o pai pegava um livro e lia em em vós alta. A mãe e a vovó faziam seus trabalhos manuais, ao redor da mesa da cozinha. No início  era sob luz de lampião, mais tarde, luz de bateria, carregada pela roda do moinho.
A maioria dos livros que lia eram na língua alemã. Mais tarde, quando já sabíamos ler, lia-se livros em português e cada uma participava da leitura lendo um trecho. Aprendi a ler  livros na língua alemã, cheguei a ler alguns sozinha também. 
Eu, especialmente, ficava imensamente feliz quando o pai voltava no sábado de sua feira de verduras em São Leopoldo, e passava na "Livraria Rotermund" e trazia livrinhos pra nós. Para mim sempre foram os melhores presentes.
Na época de estudante ginasial eu ganhava prêmios fim do ano, por ter sido a aluna que mais leu livros da biblioteca. Eu não os retirava ´por conta de receber prêmios, mas porque me fascinavam demais. Ficava as vezes a noite toda lendo, quando percebia barulho de alguém acordando para ir ao banheiro, eu depressa apagava a luz, voltando a ligar, quando ouvia silencio novamente.
Meu sonho sempre foi trabalhar em uma grande biblioteca, mas nunca cheguei a realizar este sonho. 
Hoje em dia me entristece, por ter pouco tempo para ler.  

domingo, 16 de julho de 2017

Luz elétrica

Não lembro quando em nossa casa chegou a luz elétrica, mas acho que eu já devia ter uns dez anos, pois me lembro bem quando ouvi o pai falar, ao fazer suas contas à noite, que  já  podia encomendar a instalação da rede em nossa rua.
Morávamos a  quinhentos e poucos metros da rua principal, rua Portão, e tínhamos que pagar toda a linha, e postes  até nossa casa. Lembro que eu ia toda  hora lá ver quantos postes  os homens da companhia de eletricidade já tinham colocado e corria para contar aos pais, ansiosa para que logo chegassem até nossa casa. 
Meu pai já tinha feito toda a instalação elétrica   dentro de  casa, nos galpões, no moinho, em todo lugar, até uma lâmpada na ponta da casa. 
Foi a maior alegria, quando, finalmente acendeu a luz. Não cabíamos em nós de tanta alegria! 

Logo o rádio, que já tínhamos, mas que funcionava com bateria, apenas por  pouco tempo por dia, podia ficar ligado o dia inteiro. 

Bonequinha de luxo

No tempo de escola primária, o uniforme era obrigatório e era de guarda-pó branquinho e tope azul no pescoço. 
Nosso caminho até a escola era de aproximadamente 2 km. Por 500 metros, a rua secundária de nossa casa até a  rua principal (Rua Portão), esperávamos ou já estávamos sendo esperadas, por outros colegas que vinham por esta rua. À medida que íamos seguindo, encontrávamos mais colegas da mesma escola (Grupo Escolar Humberto de Campos) e até lá a turma ficava bem grande.
Na metade do caminho, de longe, avistávamos outra estudante, esperando no alto da escada de sua casa. Ela era filha única e sempre estava impecavelmente engomada dentro de seu guarda-pó, com sapatos pretos e meias  branquinhas até os joelhos. A maioria dos estudantes, mais pobres ou simples,  nunca estava com os guarda-pós tão perfeitos, exceto na segunda-feira, pois usavam os mesmos durante toda semana e também não tinham sapatos brilhosos e meias branquinhas como ela. 
Nós a chamávamos, às escondidas, de bonequinha de luxo. Mas era  muito amiga e companheira. Não estudava na mesma classe que eu, já estava um ou dois anos mais adiantada. Depois da época de primário, nunca mais a vi e só voltei a encontrá-la muitos anos depois, quando vim morar à Tramandaí. Hoje somos muito amigas , frequentando a mesma comunidade religiosa.
  

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Domingos de cinema

Nosso pais trabalhavam muito. Mas aos domingos,  cedinho quando tinham tratado os animais, ordenhado as vacas, se arrumavam e todos íamos ao culto religioso. Meu pai sempre fez parte do presbitério (diretoria) e também era instrutor  na escola dominical para as crianças. Depois do culto, nos levava pra casa de caminhonete e ele ainda ía dar umas voltas para fazer cobranças, cobrança de mensalidades dos membros da igreja. 
Neste domingo, como não tínhamos ido passear, fazer aquelas viagens de um dia, para conhecer algum lugar diferente, à noite todos se arrumavam e íamos ao cinema. 
Lembro bem do Cine Rialto e dos donos, que sempre  esperavam a todos na entrada para cumprimentar, saber como foi a semana e contar novidades sobre próximos filmes encomendados, em breve em cartaz. 
Neste tempo, o Brasil importava filmes europeus para exibir nos cinemas brasileiros, o que deixou de acontecer anos depois. A maior parte dos filmes eram alemães, italianos e franceses. Lembro-me de cada filme lindo: Sissi; Sissi a Imperatriz; Sissi e o seu Destino; Scampolo; Christine; Os jovens anos de uma rainha; Senhoritas de Unifome; Quando voltam as flores; Quando setembro vier; O Corcunda de Notre Damme; Os Girassóis da Rússia; Familia Trapp; Arroz Maldito;  Dio, come ti amo; e outros, que não lembro. 
La no cinema a gente encontrava com quase todas as famílias de nossos colegas de aula e outro dia comentava-mos na escola.
Depois do surgimento da televisão, as idas ao cinema foram rareando e acabou o cine sendo fechado e até hoje não tem  mais  sala de cinema em Estância Velha. 
A Igreja que frequentávamos.
Cine Rialto