Retalhos da Minha Infância
Histórias que vivi e de que ainda me lembro.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Os melhores Natais

Todos os anos, quando chega o Advento, época de preparação para o Natal, me sinto triste, me emociono com facilidade. Tudo, porque lembro com saudade, dos Natais de minha infância e porque hoje, não são mais assim e porque nunca pude fazer com que meus filhos, tivessem Natais tão maravilhosos quanto eu tive.


Naquela época, para minha família, o Natal era o acontecimento mais importante do ano. Com o início do Advento, todo o trabalho girava em torno da preparação para este acontecimento.


Na Comunidade Religiosa, da qual éramos membros, já começavam os ensaios com as crianças, para a noite de Natal. Íamos, minha irmã e eu e  muitas crianças, duas ou três vezes por semana até a igreja, para ensaiar os cantos de Natal e também os versinhos que tínhamos que decorar.
Em casa, a primeira providência de nossa mãe, era ir até uma loja, comprar tecidos para fazer roupas novas para todos, para esta festa. Ela mesma costurava tudo e cada Natal tínhamos um novo vestido, sempre muito bonito, pois ela era muito criativa nas costuras. A vovó materna, que morava conosco, dedicava seu tempo inteiro, para descascar, cozinhar e secar frutas: maçãs, peras, marmelos e figos, que só podíamos começar a comer no Natal. Também assava as bolachinhas, de mel, de polvilho e de amido. Ela as fazia com diversos formatos: de pinheirinho, de estrela, de lua, de bota, de flor e até de bichinhos. Pintava-os com açúcar e cobria com confeitos coloridos. Nosso pai, já ia ao pomar, procurar o melhor pinheiro, já deixava um laço preso nele, para o marcar, para que outras pessoas, quando viessem encomendar um pinheirinho, não escolhessem justamente aquele.
Tínhamos muitas destas arvorezinhas, chamadas de Pinheiro Alemão, e todas eram vendidas, mas os troncos que ficavam, brotavam novamente e no ano seguinte lá estavam, crescidos de novo!
Quando se aproximava a véspera de Natal, um ou dois dias antes, quando estávamos na escola ou na igreja ensaiando os cantos, meu pai cortava o pinheiro e o colocava num canto da sala. Então, a mãe e a vó o enfeitavam com bolinhas coloridas e estrelinhas que elas mesmas tinham dobrado. Também, em cada ponta de ramo, prendiam um suporte com uma velinha colorida, porque naquele tempo não existiam as luzinhas elétricas, como hoje. O pai, ia para o potreiro e tirava algumas leivas de grama, que levava para debaixo do pinheiro. No canto, ao fundo dele, colocava folhagens e vasos com orquídeas. Montava o gramado, deixando um caminho de areia no meio. Deitava entre as leivas um espelho, com as beiradas bem escondidas, para parecer um laguinho. Sobre ele, pousava uns patinhos de porcelana, que pareciam estar nadando. Encostado da árvore, ficava o presépio, uma choupaninha com telhadinho de palha. Lá dentro, numa pequena manjedoura estava um bonequinho, simbolizando o menino Jesus, tendo ao lado seus pais, José e Maria. Na entrada e também espalhados pela grama, estavam diversos bichos, e alguns pastores com suas ovelhas. Todos os personagens eram de barro, muito bem moldados e pintados. Depois de tudo pronto, não podíamos entrar na sala e assim nossa ansiedade aumentava e as horas pareciam que não passavam até chegar a noite do Natal.
Na véspera de Natal, no meio da tarde, tomávamos nosso banho, nos perfumávamos e colocávamos nosso vestido novo. Todos se arrumavam com capricho. A mãe preparava uma janta rápida e logo embarcávamos na caminhonete de papai e íamos para a igreja. Antes, passávamos na casa dos avós paternos que sempre iam junto.
Lá no morro da igreja, já tinha muita gente, todos, como nós, ansiosos pelo culto. Na igreja, as crianças que cantavam, sempre entre 50 e 100, todas sentavam nos primeiros bancos. Os bancos eram colocados de lado para a plateia e na frente deles estava uma enorme árvore de Natal. Cantavam-se muito hinos de Natal, metade em português e outra metade em alemão. O pinheiro estava bem enfeitado e tinha dezenas de velinhas. Ao lado do pinheiro sempre tinha um ou dois homens, com varas bem compridas, no início com uma vela acesa presa na ponta, para acender todas as velas. Depois, colocavam panos molhados na ponta, para, se acontecesse de incendiar alguma parte do pinheiro, poderem logo apagar o fogo. Nesta noite, o Pastor sempre contava a história do nascimento de Jesus e muitas crianças diziam versos, ou pequenas mensagens natalinas.
Ao término do culto, todas as crianças presentes na igreja, recebiam um pacotinho, contendo doces e balas, com um lindo cartãozinho anexado.
Saindo de lá, o pai passava devagar pelo centro da cidade (naquele tempo, povoado) para ver através das portas abertas nas casas, os pinheiros enfeitados e brilhando.
Ao chegarmos em casa, nossos corações batiam forte.
Nosso pai sempre entrava primeiro e os demais tinham que esperar no carro. Ele dizia que iria ver se o “Menino Jesus” já tinha passado por lá. Então ele acendia as velas e depois vinha nos chamar.
Ao entrarmos na sala, ficávamos maravilhadas com a beleza do pinheiro, todo iluminado, com o presépio lindamente montado, com todos os seus personagens.
Na frente do pinheiro encontrávamos dois presentes. Cada uma recebia só um. Ou era uma caixinha de lápis de cor com um bloco de desenho, ou era um livrinho de histórias, ou era uma boneca de pano, confeccionada pela avó paterna e, mais tarde, quando já mais crescidas, quase sempre era material escolar: estojo para os lápis, cadernos ou uma pasta nova. Quase não cabíamos em nós de tanta felicidade! Depois, todos sentavam ao lado do pinheiro, cantávamos novamente as músicas de Natal. A mãe e a vó colocavam numa mesinha ao lado, todos os tipos de doces e docinhos, frutas secas e as vezes uma gostosa torta com que nos deliciávamos. Nós crianças, ganhávamos cada uma, um copo de framboesa e os adultos tomavam cerveja caseira. O pai, que gostava muito de ler, já tinha separado alguma linda história de Natal, que lia para nós.

A noite era de emoção, alegria e paz! Parecia que sentíamos a presença de Jesus.

O Natal da família gato

Houve um certo Natal diferente em minha infância, que deixou minha mãe bastante furiosa, mas que foi muito divertido.

Quando voltamos do Culto de Natal, como sempre, meu pai entrou em casa primeiro, para colocar os presentes sob o pinheiro e acender as velinhas.  Desta vez ele não se demorou nada e logo voltou dizendo que o "Kristkind" (Menino Jesus) já esteve lá, mas deixou os presentes na mesa da cozinha e nem acendeu as velinhas, pois trouxe junto uns "anjinhos" que o impediram de entrar na sala, onde estava o pinheiro.
Ficamos todos espantados e muito curiosos e fomos entrando bem depressa para ver.
A exclamação era geral! Não conseguíamos acreditar no que estávamos vendo. Não dava para caminhar na sala. Como uma emaranhada teia de aranha, estavam os pés da mesinha e das cadeiras (não tínhamos sofás), trançados de fios de lãs e linhas. Embaixo do pinheiro tudo estava esculhambado, não havia mais presépio e personagens no lugar. Muitas bolinhas de Natal  quebradas. Era um caos geral. 
Os personagens desta façanha, logo  sabíamos quem eram: a família gato.
Tínhamos uma gata com uma ninhada de filhotes bem travessos, que, desde que foi arrumado o pinheiro, não puderam mais entrar dentro de casa. Fechava-se sempre a porta, para que não fossem lá na sala esculhambar tudo.
Mamãe, antes de sair para o Culto de Natal, na pressa de empacotar mais algum presente, precisou de um fio de linha e acabou deixando a cesta com os rolinhos dos fios, no chão da sala. Também esqueceu de fechar a porta que dava para a garagem onde ficavam os gatinhos.
A família gato, com certeza pensou que fossem seus presentes e se puseram a brincar enquanto nós tínhamos saído para o Culto. 
Então, ao invés de nos reunirmos em volta do pinheiro para cantar músicas natalinas, como fazíamos todos os anos, saboreando docinhos e curtindo nossos presentes, passamos horas à arrumar tudo, desfazendo nós e enrolando linhas. 
Sem dúvida, este foi o Natal mais feliz da Família Gato!

Penélope e Charmosa


Quando criança sempre convivi com gatos. Também tínhamos cachorros, mas meu amor maior era pelos gatos.  Minha mãe os amava demais e sempre tinha muitos gatos.
Quando casei, meu marido só quis cachorro, odiava os gatos. Quis muito, mas não pude ter um gatinho.
Depois vieram os filhos, um menino e uma menina e eles também adoravam os gatos, muito mais do que os cachorros. Mas não podiam ter nenhum. Sempre quando íamos veranear na casa do vovô, eles passavam o tempo todo brincando com os gatinhos da vovó. Também vinha passear na casa da vovó, uma gata da raça himalaia, que pertencia a uma vizinha, que a trazia junto em época de veraneio. Era linda e muito mansinha. Adorava a companhia das crianças.
Quando minha filha completou dez anos, o pai dela a perguntou o que queria ganhar de aniversário. Disse assim: podes pedir qualquer coisa que eu compro pra ti. Quando eu ouvi isso, eu já imaginei o que vinha.
-Pai, posso pedir mesmo, o que eu quiser?
- Sim podes, minha filha.
- Ah, então eu quero um gatinho. E quero que seja igualzinho à Penélope. (a gata himalaia da vizinha da vovó).
Quando ouviu isso, ele começou a ralhar, mas eu intervi e disse que ele ofereceu qualquer coisa e agora não podia voltar atrás. Se ele não queria isso, não devia ter falado assim, pois ela muitas vezes pediu um gatinho.
À noite falei pra minha cunhada do pedido que a filha fez. Então ela disse que uma colega da filha dela, tinha uma gata linda com filhotes. Ela iria ver se tinha algum sobrando. Logo ela me retornou, e falou que tinha reservado uma pra nós, mas que só poderia buscar em um mês, pois recém tinham duas semanas de vida.
Passados quinze dias, meu marido foi à casa da irmã e lá resolveu de já trazer o gatinho.
Chegando à casa desta senhora, ele teve uma surpresa. Era a vizinha de praia da vovó a dona da Penélope, a gata com quem as crianças brincavam e gostavam muito. Minha cunhada vendo os gatinhos tão lindos, logo disse pra meu marido. Leva mais um para o menino também. Aí a dona da Penélope também disse.  - Vais levar sim, pois o menino também já me disse que gosta muito de gatos, mas o pai não deixa ter e eu sei que lá vão ser bem cuidados!
Quando meu marido chegou em casa exclamei:
- Que foi que houve contigo?! Não queria gato nenhum, agora já vem com dois!
As crianças não cabiam em si de tanta felicidade! Eram duas fêmeas. Uma era toda branquinha, igualzinha a sua mãe, de aparência himalaia, de olhos azuis. Recebeu o nome de Charmosa. A outra era rajadinha, peluda, mas não tinha a carinha de himalaia, pois a gata cruzou com um gato comum. Mas era linda também, de olhos verdes.  Recebeu o nome de Penélope.
Tinham apenas 30 dias de vida, nem sabiam comer sózinhas. Tive muita pena. Penélope logo aprendeu e parecia não sentir falta da mãe. Mas Charmosinha era muito carente, sempre queria mamar na roupa da gente.
Penélope teve uma índole de vira-lata, ela saía do pátio, ía passear pelas redondezas. Charmosa, talvez por ter mais sangue de raça, nem saia para o pátio, era gata caseira mesmo.
Vendo como eram queridas e brincalhonas, meu marido passou a gostar delas e também chorou junto conosco, quando Penélope com doze anos morreu de câncer.
Charmosa morreu de velhice com quase 16 anos.