Todos os anos, quando chega o Advento, época de preparação para o Natal, me sinto triste, me emociono com facilidade. Tudo, porque lembro com saudade, dos Natais de minha infância e porque hoje, não são mais assim e porque nunca pude fazer com que meus filhos, tivessem Natais tão maravilhosos quanto eu tive.
Naquela época, para minha família, o Natal era o acontecimento mais importante do ano. Com o início do Advento, todo o trabalho girava em torno da preparação para este acontecimento.
Na
Comunidade Religiosa, da qual éramos membros, já começavam os ensaios
com as crianças, para a noite de Natal. Íamos, minha irmã e eu e
muitas crianças, duas ou três vezes por semana até a igreja, para
ensaiar os cantos de Natal e também os versinhos que tínhamos que
decorar.
Em
casa, a primeira providência de nossa mãe, era ir até uma loja, comprar
tecidos para fazer roupas novas para todos, para esta festa. Ela mesma
costurava tudo e cada Natal tínhamos um novo vestido, sempre muito
bonito, pois ela era muito criativa nas costuras. A vovó materna, que
morava conosco, dedicava seu tempo inteiro, para descascar, cozinhar e
secar frutas: maçãs, peras, marmelos e figos, que só podíamos começar a
comer no Natal. Também assava as bolachinhas, de mel, de polvilho e de
amido. Ela as fazia com diversos formatos: de pinheirinho, de estrela,
de lua, de bota, de flor e até de bichinhos. Pintava-os com açúcar e
cobria com confeitos coloridos. Nosso pai, já ia ao pomar, procurar o
melhor pinheiro, já deixava um laço preso nele, para o marcar, para que
outras pessoas, quando viessem encomendar um pinheirinho, não
escolhessem justamente aquele.Tínhamos muitas destas arvorezinhas, chamadas de Pinheiro Alemão, e todas eram vendidas, mas os troncos que ficavam, brotavam novamente e no ano seguinte lá estavam, crescidos de novo!
Quando se aproximava a véspera de Natal, um ou dois dias antes, quando estávamos na escola ou na igreja ensaiando os cantos, meu pai cortava o pinheiro e o colocava num canto da sala. Então, a mãe e a vó o enfeitavam com bolinhas coloridas e estrelinhas que elas mesmas tinham dobrado. Também, em cada ponta de ramo, prendiam um suporte com uma velinha colorida, porque naquele tempo não existiam as luzinhas elétricas, como hoje. O pai, ia para o potreiro e tirava algumas leivas de grama, que levava para debaixo do pinheiro. No canto, ao fundo dele, colocava folhagens e vasos com orquídeas. Montava o gramado, deixando um caminho de areia no meio. Deitava entre as leivas um espelho, com as beiradas bem escondidas, para parecer um laguinho. Sobre ele, pousava uns patinhos de porcelana, que pareciam estar nadando. Encostado da árvore, ficava o presépio, uma choupaninha com telhadinho de palha. Lá dentro, numa pequena manjedoura estava um bonequinho, simbolizando o menino Jesus, tendo ao lado seus pais, José e Maria. Na entrada e também espalhados pela grama, estavam diversos bichos, e alguns pastores com suas ovelhas. Todos os personagens eram de barro, muito bem moldados e pintados. Depois de tudo pronto, não podíamos entrar na sala e assim nossa ansiedade aumentava e as horas pareciam que não passavam até chegar a noite do Natal.
Na véspera de Natal, no meio da tarde, tomávamos nosso banho, nos perfumávamos e colocávamos nosso vestido novo. Todos se arrumavam com capricho. A mãe preparava uma janta rápida e logo embarcávamos na caminhonete de papai e íamos para a igreja. Antes, passávamos na casa dos avós paternos que sempre iam junto.
Lá no morro da igreja, já tinha muita gente, todos, como nós, ansiosos pelo culto. Na igreja, as crianças que cantavam, sempre entre 50 e 100, todas sentavam nos primeiros bancos. Os bancos eram colocados de lado para a plateia e na frente deles estava uma enorme árvore de Natal. Cantavam-se muito hinos de Natal, metade em português e outra metade em alemão. O pinheiro estava bem enfeitado e tinha dezenas de velinhas. Ao lado do pinheiro sempre tinha um ou dois homens, com varas bem compridas, no início com uma vela acesa presa na ponta, para acender todas as velas. Depois, colocavam panos molhados na ponta, para, se acontecesse de incendiar alguma parte do pinheiro, poderem logo apagar o fogo. Nesta noite, o Pastor sempre contava a história do nascimento de Jesus e muitas crianças diziam versos, ou pequenas mensagens natalinas.
Ao término do culto, todas as crianças presentes na igreja, recebiam um pacotinho, contendo doces e balas, com um lindo cartãozinho anexado.
Saindo de lá, o pai passava devagar pelo centro da cidade (naquele tempo, povoado) para ver através das portas abertas nas casas, os pinheiros enfeitados e brilhando.
Ao chegarmos em casa, nossos corações batiam forte.
Nosso pai sempre entrava primeiro e os demais tinham que esperar no carro. Ele dizia que iria ver se o “Menino Jesus” já tinha passado por lá. Então ele acendia as velas e depois vinha nos chamar.
Ao entrarmos na sala, ficávamos maravilhadas com a beleza do pinheiro, todo iluminado, com o presépio lindamente montado, com todos os seus personagens.
Na frente do pinheiro encontrávamos dois presentes. Cada uma recebia só um. Ou era uma caixinha de lápis de cor com um bloco de desenho, ou era um livrinho de histórias, ou era uma boneca de pano, confeccionada pela avó paterna e, mais tarde, quando já mais crescidas, quase sempre era material escolar: estojo para os lápis, cadernos ou uma pasta nova. Quase não cabíamos em nós de tanta felicidade! Depois, todos sentavam ao lado do pinheiro, cantávamos novamente as músicas de Natal. A mãe e a vó colocavam numa mesinha ao lado, todos os tipos de doces e docinhos, frutas secas e as vezes uma gostosa torta com que nos deliciávamos. Nós crianças, ganhávamos cada uma, um copo de framboesa e os adultos tomavam cerveja caseira. O pai, que gostava muito de ler, já tinha separado alguma linda história de Natal, que lia para nós.
A noite era de emoção, alegria e paz! Parecia que sentíamos a presença de Jesus.