Retalhos da Minha Infância
Histórias que vivi e de que ainda me lembro.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Passeando no Rio dos Sinos

Quando eu passava férias na casa dos tios Rita e Oldemar, seguidamente podia ir com eles passear de canoa pelo Rio dos Sinos, em São Leopoldo.  
Eles iam pescar e sempre conseguiam belos peixes. Naquela época o rio era bem limpinho, não se via lixo em lugar algum. O rio era fundo e tinha correnteza, mas nunca ninguém usou, nem mesmo eu criança, algum colete salva-vidas. Parece que não existia esta preocupação de alguém cair ou o barco virar. 
Ás vezes fazíamos pic-nic em alguma margem bonita, ou simplesmente parávamos para comer nosso lanche. 
Lembro também,  que havia uma ilha no meio do rio, onde só existia um colégio e o casal que morava ali para cuidar, eram amigos de meus tios. 
Às vezes  aos domingos, meus pais também vinham, e todos iam de canoa para o rio. 
Lembro de,  numa certa manhã,  bem cedinho, os vizinhos de meus tios, os acordaram para mostrar o enorme peixe, um dourado, pescado no rio naquela noite. Penduraram em uma árvore e todos ajudaram a limpá-lo e cortar em pedaços. Ele, pendurado, era mais alto que um homem. Hoje em dia, nem em sonho, não existem mais peixes assim no rio. Acho que a poluição acabou com todo e qualquer peixinho!
Rita, Lody, Ingrid e Oldemar
(ano talvez foi 1950 ou 1951)
(foto nossa)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A recompensa das boas notas

Quando entrei para a escola, com sete anos, já sabia escrever e reconhecer algumas palavras, que meu pai havia ensinado. Mas, o que foi mais difícil, é que eu não sabia falar nada em português. Em casa só se falava a língua alemã.
 Para não ir sozinha à escola, minha irmã também pode ir, só que ela frequentou o jardim de infância e eu entrei direto para o 1º ano. Então para ela já foi mais fácil, quando começou a ser alfabetizada. Já entendia tudo. 
Mas, eu não era a única que não entendia a professora, por sorte ela sabia falar em alemão e logo traduzia para entendermos o que estava se aprendendo.
Felizmente durante toda minha época de estudante,  eu sempre fui muito bem na escola, era estudiosa e sempre tirava ótimas notas. No primário,  desde o início, tive uma colega, que era filha da diretora da escola,  que também tirava ótimas notas. Sempre estávamos juntas no 1º e  2º lugar nos exames e recebi muitos presentes em fim de ano, por ter as  melhores  notas. 
Um destes presentes ainda guardo hoje com muito carinho: um livro de recordações. E nele todas as minhas antigas professoras e meus colegas, deixaram escrito alguns versinhos, alguma mensagem.
Volta e meia eu pego e gosto de ler novamente.
Talvez ano 1957 ou 1958 - foto nossa
Classes escolares do meu tempo de escola primária
(foto ilustrativa)
Grupo Escolar Humberto de Campos, localizava-se onde hoje está a praça 1º de Maio, Centro de Estância Velha. 

Lindas pandorgas

Meu pai sempre nos construiu lindas pandorgas, para brincarmos em dias de vento forte. Na verdade, elas eram feitas pra nós, mas quem mais se divertia e se entretia com elas, era ele mesmo.
 Fazia grandes e coloridas pandorgas . 
Um dia, quando uma enorme pandorga foi para muito alto e longe, poque ele colocava centenas de metros de linha, esta  arrebentou e a pandorga foi embora, não descobrindo mais onde caíra. Depois disso ele sempre colocava nome e endereço, para o caso de caírem,  alguém achar e devolver. Não me recordo de alguém que tivesse trazido alguma de volta, mas que muitas arrebentavam , sim.




(fotos ilustrativas)

Trapiche

Nos primeiros anos que o açude fora construído, quando  já estava cheio d'água, meu pai e seus amigos  inventaram uma brincadeira : construíram uma rampa que ficava inclinada , numa ponta bem alta e na outra entrava n'água. Depois construíram umas carretinhas onde se sentavam e desciam a toda a velocidade para dentro da água. 
Isto foi muito bom por um tempo. Mas a cada domingo vinham mais amigos e conhecidos para brincar ali e um certo dia algum deles despencou do alto e ficou muito machucado. Aí viram que ali poderiam acontecer acidentes mais graves e resolveram demolir o trapiche. 
Na foto, minha tia Selvira e nós duas sentadas no trapiche. 

foto nossa

Os lindos vestidos

No nosso tempo de criança, não se comprava roupas prontas em lojas. Tudo era costurado em casa. A mãe só ia uma vez por ano comprar tecidos e lãs e linhas  para as diversas roupas que  se precisava. Casacos e meias eram tricotados. 
Todo ano, no Natal ganhávamos um vestido novo. A mãe tinha muita criatividade e sempre costurava lindos vestidos, às vezes tinham aplicações de bordados ou detalhes com crochê ou frivoletê. Também tinhamos lindos vestidos de tricô ou crochê. Sempre éramos muito elogiadas com nossos vestidos. 
Este vestido novo, usávamos na noite de Natal e em todos os domingos que íamos no culto, ou quando íamos passear naquele ano. Então os vestidos anteriores, passávamos a usar na escola ou em casa, e quando deixavam de servir, eram aumentados com entremeios ou emendas.
Eu sou um ano, um mês e cinco dias mais velha que minha irmã. No entanto, nossa mãe, sempre fazia roupas iguais para nós, até por volta dos 13 anos de idade. Por isso, eramos conhecidas como gêmeas e também porque realmente eramos muito parecidas e de igual tamanho, já por eu ser mais franzina, até pelos dez anos de idade.
Só depois de nossa confirmação na igreja, eu tinha 13 anos e minha irmã 12, é que passamos a nos vestir com vestidos diferentes. Não que a mãe assim o quisesse, mas depois da confirmação, como havíamos recebido algum dinheiro de presente, ela nos mandou, nós  mesmas, ir na loja comprar tecido para fazer vestidos. Aí  aproveitamos e compramos tecidos diferentes. 




eram vestidos bem mais bonitos que estes - fotos ilustrativas 

Apendicite

Desde pequena eu sempre fui muito franzina, muito doente, ninguém sabia porquê. Seguidamente tinha vômitos e precisava comer só uns leves mingaus para me alimentar pois quase tudo me fazia mal.
Quando foi época de eu frequentar o 2º ano, com 8 anos, eu não pude ir para a escola. Tive hepatite e sempre estava muito debilitada. Comecei, um ano antes de minha irmã, a ir para a escola, mas como perdi o 2º ano, dali em diante fomos sempre juntas, até o fim do ginásio (fim do 1º grau).
Com dez anos de idade, continuando daquele mesmo jeito, sempre doente, lembro do dia, era um domingo, passei muito mal de manhã. Meus pais tinham ido no culto e minha avó e irmã estavam em casa. Minha avó ficou com muito medo de algo mais grave acontecer e mandou minha irmã ir lá na igreja, chamar meus pais e pedir que trouxessem um médico urgente.
Foi o que aconteceu e o médico logo me carregou para o hospital, onde fui operada às pressas. Constatou apendicite. Disse que o apêndice estava tão grande que estava prestes a explodir.
Lembro até hoje, que tive que ficar 10 dias no hospital e minha avó ficou comigo. Naquela época a anestesia era com éter e o corte fechado com grampos. Após a cirurgia, colocavam em cima da barriga, um saco pesado, acho que, com arreia, para  não inchar.
Dei o maior trabalho para a minha avó, pois eu não deixava este peso na barriga, logo o derrubava e minha avó não conseguiu nem descansar, pois sempre tinha que recolocá-lo em cima de mim.
Mas, graças a Deus, tudo passou, e daquele dia em diante eu mudei, nada mais me fazia mal, podia comer de tudo e desabrochei como uma flor. Acredito que todos os meus problemas de saúde que sempre tive antes, eram consequência deste meu apêndice doente. 
fotos ilustrativas

A gata que montava os cães

Nós, sempre tivemos muitos gatos. A mãe era uma espécie de protetora, pois quando encontrava algum abandonado levava para casa e seguidamente, as pessoas que não queriam mais gatos, iam até nossa casa e escondido de nós, abandonavam gatinhos.
Minha avó e ela diziam que cada casa deveria ter gatos, pois estes levavam embora "mau olhado", absorviam doenças e negatividade das pessoas. Se um gato ficasse doente e morria, elas diziam que uma pessoa da casa foi salva pelo gato.  
Tinha uma gata mãe, acho que a mais velha de todas, cada vez que ela tinha filhotes, ela era braba e cuidava com unhas e dentes a sua ninhada. 
Ao lado de nossa casa, passavam muitas pessoas, vizinhos que moravam mais adiante e outros que moravam nos fundos de nossa terra, atalhavam, para chegar mais depressa à venda. Dificilmente algum transeunte não vinha acompanhado de algum cão.
Tinha um senhor que passava por lá, sempre com uma matilha de cães e a mãe falava pra ele: "o dia que nossa gata velha tiver filhotes, teus cães não conseguirão passar por aqui!. Ele ria e dizia que isso nunca ia acontecer pois seus cães enfrentavam qualquer coisa, eram fortes e corajosos. 
Mas chegou o dia que a "Mitzi" tinha filhotes.
Vimos de longe este senhor vindo, com sua matilha de cães. Então a mãe já começou a rir dizendo: hoje ele vai ver quem é mais forte e corajoso!
Faltavam uns 50 metros para ele passar ao lado de casa, quando a Mitzi viu e foi se sentar bem no meio do caminho deles.
O senhor viu e ficou rindo, dizendo : hoje vocês vão conhecer a raça de meus cães!. Bastou ele falar isso para ela encarar o primeiro cão, montar na garupa dele e ficar batendo na cabeça dele,  até ele se voltar e sair correndo para onde veio, ganindo como podia. Assim ela fez com mais alguns, até que todos resolveram voltar pelo caminho que vieram e não acompanharam mais o patrão. 
Então minha mãe e todos lá em casa caíram na gargalhada e o senhor se escapou  rapidamente e nem quis mais conversa. 
Lody e o gato NUPY - foto nossa

terça-feira, 7 de julho de 2015

Com quatro anos.

Contava minha mãe, que aos quatro anos de idade, eu já sabia bordar. 
Ela pegou  um tecido grosso  e  nos quatro cantos riscou uma figura, um patinho, um gatinho, um urso e um cãozinho, e me ensinou o ponto atrás. No centro bordei  quatro anos. Eu guardei por muitos anos este guardanapo, no qual  minha mãe fez um belo croché e eu usava em algum móvel de meu quarto.
Depois me ensinou também outros pontos e fiz muitos bordados. 
Também aprendi a fazer  tricô e crochê.
Minha irmã e eu sempre gostamos destes trabalhos manuais e até hoje ainda fazemos bastante.
Também com quatro anos de idade eu aprendi a nadar. Ao lado de casa tinha um arroio bem fundo, porque foi represado para tocar um moinho e este eu atravessava nadando sozinha. 
Bem novinhas, minha irmã e eu,  já tomávamos muitos banhos no açude, sabíamos mergulhar dos trampolins e fazíamos corrida,  até com adultos,  para atravessar o açude nadando.
Contava também que eu adorava ver livrinhos, papéis, jornais, parecia que eu os li, tanto que gostava.  
Outra história que a mãe sempre contava, mas que só tenho uma vaga lembrança, por ter sido muito  novinha,  é que um dia ela me encontrou quebrando as perninhas de alguns pintinhos. Apavorada com aquilo ela me deu umas chineladas na bunda, gritando comigo,  pra nunca mais fazer aquilo. Então eu chorava, chorava e só dizia "tava errado, mãe, tava errado, mãe".
Mais tarde que ela compreendeu que eu pensava que eles tinham dobrado os joelhos errado, isto é, para trás, diferente dos meus e queria arrumar, dobrar pra frente. Por isso eu só repetia que "tava errado".
Mas, infelizmente estes pintinhos tiveram que ser sacrificados.   
 Fotos nossas
Aprendendo a nadar, com pai e mãe.
Lendo um jornal, enquanto....

Brincando  com o gatinho.
pintinhos - ilustração

Pescando muçum

Costumávamos ir pescar, principalmente nos arroios próximos, que naquela época ainda eram de águas límpidas, onde se encontrava peixes, tais como: traíras, jundiás, carás, joaninhas, lambaris e muçuns.
                                              (arroio parecido com este) (fotos ilustrativas)
O muçum é um peixe como uma cobra. às vezes tem mais de um metro e meio de comprimento e mais grosso que um braço de homem. Tem uma carne saborosa. 
Eram estes muçuns que nós mais gostávamos de pescar. 
Procurava-se as tocas deles, que eram buracos no barranco, dentro do arroio. Na entrada destes buracos se largava uma linha com um pequeno lambari no anzol, às vezes ainda vivo, e o mexíamos prá lá e prá cá, para chamar atenção do peixe. Quando este atacava a isca e engolia o anzol, tinha que se fazer força rapidamente para puxá-lo para fora da toca. 
Lembro-me de um dia, num domingo à tarde, quando já éramos adolescentes, com 14 ou 15 anos, de estarmos pescando embaixo da ponte, do caminho onde passavam nossos vizinhos e muitas pessoas que encurtavam o trajeto para a vila. Então um senhor, nosso vizinho, nos viu e gritou:
-Gurias, isso não é mais tempo de vocês estarem pescando muçuns. Vocês deveriam estar bem arrumadinhas e cheirosas, lá na praça da vila, pescando namorado! 

Tapeando um bêbado

Para encurtar caminho para a venda, passavam por nossas terras alguns vizinhos, que moravam nos fundos delas. 
Um destes passantes, quando voltava da venda, estava completamente bêbado. Vinha cambaleando pela rua. Além de nossa casa, ele tinha que atravessar o riacho, por uma pequena ponte, feita de um tronco de árvore. Nós ficávamos à espreita, vendo se ele conseguia passar em linha reta, torcendo para ele cair, o que nunca aconteceu. 
Uma brincadeira que fizemos diversas vezes com ele, mas ele sempre caía nela de novo, porque bêbado não se lembra do que faz quando está "alto", era amarrar uma carteira , bem gorda, cheia de papéis parecendo dinheiro, e puxá-la por um fio, quando ele se abaixava, para apanhá-la. 
Nós nos divertíamos de montão,   vendo ele se abaixar e quase cair, tentando alcançar a carteira, que sempre fugia da frente dele. 

O açude balneário

Tornou-se balneário para visitantes e turistas, que vinham de todas as redondezas, o maior açude que meu pai construiu, com ajuda do avô, do tio e alguns amigos. 
Não foi este o desejo inicial, foi construído com o intuito de nele criar peixes. No entanto, era muito difícil segurar as pessoas que vinham lá em nossas terras, e mesmo sem permissão,  pescavam  e roubavam os peixes, e depois  mais tarde,  pulavam na água para tomar banho.Cada vez vinham em maior número e não respeitavam o nosso aviso. 
Então surgiu a ideia de fazer melhorias e transformá-lo oficialmente em balneário e assim também poder cobrar algum ingresso, para obter alguma renda, já que com peixes não daria mais.
Construiu um muro interno, colocou alguns trampolins, cercou uma parte bem rasa para crianças, e retirou todos os peixes. Limpou o fundo, colocando areia limpinha, fez entradas e saídas de água. Em cada lado do açude existiam arroios bem limpinhos, então de um ele fez uma entrada de água corrente e para o outro uma saída da água. Assim a água sempre se renovava. Todos os anos, sempre na primavera ele soltava toda a água  e fazia a limpeza e renovação do fundo. Em volta do açude, ele alargou as taipas, plantou árvores, grama e colocou bancos, feitos de troncos. Construiu um bar, banheiros e vestiários e cercou tudo. 
Ao entrar, as pessoas passaram a pagar um ingresso e assim o balneário ficou muito conhecido e tornou-se por muitos anos,  um ponto turístico da cidade de Estância Velha. No verão, vinham pessoas de todas as redondezas, para passar o dia e se refrescar. 
No bar, eram vendidos lanches e bebidas. Na cozinha eram preparados sanduíches, pastéis, cachorros-quentes. Os sanduíches eram feitos de pão que a minha mãe mesmo fazia no forno à lenha, todos os dias , bem fresquinho. Depois recheava duas fatias com manteiga, queijo, salame e pepinos. Á tarde, quando as pessoas saíam do banho, chegavam a formar fila para conseguir os tais sanduíches. 
Durante alguns anos tudo foi muito bem. Depois começaram as incomodações. 
Veio a vigilância sanitária, porque o lago não tinha tratamento com cloro. Ele era muito grande , isso para nós era impossível fazer. Então o balneário foi interditado, mas as pessoas vinham e mesmo assim não respeitavam as placas de interdição e pulavam n'água, fazendo com que meu pai recebesse muitas multas. Tanto se incomodou que acabou vendendo para uma empresa da cidade, que vinha insistindo para comprá-lo a muito tempo. 
Para espanto de todos, eles retiraram as placas , colocaram um administrador,   e continuou sendo  explorado como balneário por muitos anos, sem nunca a vigilância os incomodar para fazer tratamento da água.
Hoje em dia, (2015) este local que já foi um lindo ponto turístico da cidade, está totalmente abandonado, não tem mais água no lago, o mato tomou conta. Tudo porque, a última pessoa que a empresa colocou lá para administrar, entrou na justiça, alegando não ter recebido  honorários. Então, enquanto isso não for solucionado, tudo fica abandonado. Uma pena! 
Como era:
(fotos nossas e fotos cedidas por Marisa)

































Como está agora: