A casa onde morávamos, parecia um labirinto de tantas emendas que já havia recebido desde o início de sua construção. Era moradia, moinho, roda d'água, porque por baixo dela também passava um arroio, debulhador e descascador de arroz e armazém na outra ponta. Tudo sob o mesmo teto. No sótão, em cima da moradia, ficavam nossos dormitórios, depois uma parte onde brincávamos e no resto era seleiro e guarda entulhos. Tinha escadas diversas, para a moradia e para o moinho. No moinho havia três lances de escadas. Em tudo tinha portas de ligação.
Minha irmã e eu gostávamos de brincar de esconder. Entrávamos por um lado e saíamos por outro, inclusive dava para sair pelas janelas do quarto e passar para o telhado, entrar na outra janela, ou descer por uma árvore, um pé de caqui de chocolate, que ficava bem encostado da casa. Tudo era interligado.
Corríamos por todos os lugares desta grande casa, inclusive por todas as escadas que, no moinho, não tinham corrimão.
Quando aconteceu este incidente, minha irmã deveria ter seis ou sete anos. Na pressa de encontrar um bom lugar para se esconder, ela caiu de uma escada no moinho e bateu o nariz num degrau de pedra. O seu nariz arrancou fora e dobrou para trás, isto é, para cima, deixando à mostra um buraco em seu rosto.
Todos ficaram apavorados. Enrolaram ela em panos e a levaram ao hospital onde ela ficou um bom tempo, com caninhos introduzidos no nariz.