Depois que papai comprou o carro, uma "modela A" modificada, paramos de fazer passeios à pé, nas redondezas, e iniciamos as nossas viagens domingueiras de carro.
No sábado a mãe preparava o lanche e no domingo, bem cedinho, quatro ou cinco horas da manhã, depois que tinham tratado os animais e ordenhado as vacas, saíamos a viajar.
Cada domingo era escolhido outro roteiro. Visitávamos todas as direções ao redor de Estância Velha, sempre uma distância que dava para ir, e estar de volta, até a noite.
Foi assim que conheci Nova Petrópolis, Gramado, Canela, Bom Jesus, São Francisco de Paula, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Estrêla, Lageado, Teutônia, Santa Cruz do Sul, Guaíba, Porto Alegre e o litoral.
Depois de conhecer a praia, principalmente Tramandaí, nossas viagens, passaram a ser só mais, para lá.
Nossos "maiôs", era mamãe quem costurava. Mas já estavamos acostumados a usá-los, pois tomávamos muito banho nos nossos açudes.
Sentia-me eufórica, a semana inteira, quando ficava sabendo que o destino do próximo domingo seria a praia.
Saíamos as quatro horas da madrugada, já vestidas com nossos trajes de banho, por baixo da roupa de viagem. O trajeto era longo, só chegávamos pelas oito horas.
Além do pai e da mãe, sempre nos acompanhava a vó materna e algumas vezes os avós paternos ou nossos vizinhos ou nossos tios.
Na metade do caminho, em Glorinha, debaixo de uma linda figueira, parávamos para tomar um lanche, o nosso café da manhã, que a mãe já levava preparado de casa.
Depois parávamos novamente, um pouco além de Osório, a mais ou menos quinze quilometros do mar, onde tinha um pequeno mato à direita. Lá fazíamos nossas necessidades e nossos pais vestiam os trajes de banho, pois já sentíamos o cheiro do mar e nossos lábios já estavam salgados. Hoje em dia, mesmo residindo bem próximo do mar, não sinto mais este cheiro e este sabor em meus lábios.
Daquele local em diante, se avistavam os comoros de areia, que simplesmente nos fascinavam.
Estávamos chegando à praia! Que alegria! Este imenso mar, às vezes com ondas muito turbulentas.
Mais que depressa tirávamos nossas roupas de cima e corríamos para pular nas ondas. No início tínhamos medo delas, mas depois era só brincadeira.
Muitas vezes, não dava para chegar próximo do mar com o carro, havia muita areia fofa. Existiam caminhos de palha ou de sarrafos para os carros passarem, mas às vezes não adiantava, e muitos carros ficavam atolados.
Por volta do meio-dia, saíamos do banho, nos enroláva-mos em toalhas, para não molhar os bancos do carro, e saíamos a procurar um local com sombra, onde pudéssemos nos acomodar para comer nosso almoço.
Depois do almoço, visitava-mos o Rio Tramandaí, onde sempre havia barcas, carregadas de abacaxi e bananas. O pai logo comprava abacaxis e ali mesmo os saboreáva-mos e também comprava em saco, para levar para casa. Lembro de abacaxis bem pequeninhos, que podíamos comer um inteiro sozinhas. Eram gostosos demais!
Algumas vezes, atravessávamos o Rio Tramandaí pela ponte e íamos para o lado de Imbé. Logo ao lado da ponte, tinha sempre alguns barcos bem grandes, emborcados em cima de cavaletes. Aí ficávamos ali em baixo, na sombra, comendo nosso almoço. Às vezes até subíamos nestes barcos.
À tarde, voltávamos novamente até a praia e tomávamos mais um banho demorado. Quando chegava quatro horas da tarde, ficávamos tristes, pois era hora de voltar para casa. Íamos até o mesmo matinho, enrolados nas toalhas e lá trocávamos nossos trajes de banho pelas roupas secas.
Antes de ficar noite escura já estávamos de volta em casa e então meus pais ainda tinham que tratar o bicharedo e ordenhar as vacas.
Nós crianças, após uma leve janta preparada pela avó, caíamos exaustas na cama, sonhando com o maravilhoso dia!
Houve algumas ocasiões, umas duas ou três vezes, que nós , juntamente com os tios, fomos para a praia já no sábado e pernoitamos em barraca de lona, montada junto ao Rio Tramandaí, no lado de Imbé. Lembro que à noite, nossos tios e pai, íam com lanternas, caminhando na parte rasa da lagoa, fisgar linguados. Sempre conseguiam alguns belos exemplares.
Acredito que o amor pela praia, que já tínhamos naquela época, contribuiu, para que, muitos anos depois, viéssemos morar no litoral, primeiro meus pais, depois eu e família, depois minha irmã e filha.
Em Caxias do Sul , com a vó Olinda
Em São Francisco de Paula, no Lago Negro
No Rio Guaíba, Praia Vila Elsa, com vó Olinda e tio Oldemar e Rita e primo Ney
Eu em Imbé, ao lado da ponte, em cima de uma barca que estava emborcada sobre cavaletes.
Nosso carro na praia
Nós, pulando as ondas, com nossos maiôs, costurados pela mãe.